segunda-feira, 21 de maio de 2007

Demanda mantém ritmo de expansão unindo qualidade à ritmo de expansão

Há alguns anos o faturamento em moeda nacional do setor de automação industrial mantém ritmo de crescimento ao redor de 20% ao ano, em termos nominais (sem considerar a taxa de inflação), como indicam os dados da Associação Brasileira da Indústria Eletro-Eletrônica (Abinee). Mas os resultados poderiam ser ainda melhores.
Boa parte dos negócios em instrumentação de controle e automação de processos, notadamente no caso das encomendas de grande porte, não passa pelos fornecedores locais, mas vem embutida em equipamentos ou integram pacotes turn key.
Centro de Controle Operacional da PqU coloca cada etapa do processo na telas
"O volume de material importado, seja na forma de sistemas prontos, seja como partes e peças, inclusive pelos fornecedores nacionais, é praticamente igual ao faturamento das empresas do setor no País", informou o diretor da Abinee, Nelson Ninin, também presidente da Yokogawa América do Sul. O mercado nacional apresenta um fluxo regular e crescente de pequenas encomendas, nas linhas de reposição de peças obsoletas, modernização de linhas existentes e projetos totalmente novos, nesse caso quando o agente financeiro é nacional. "Os projetos de grande porte são poucos, demoram para maturar, e acabam sendo importados integralmente, até por compromisso assumido com financiadores internacionais", explicou.
Ninin espera para 2005 desempenho setorial semelhante ao de 2004, quando foi alcançado crescimento nominal de 18% sobre o faturamento de 2003, perfazendo R$ 2 bilhões, aproximadamente. Como a inflação do período ficou entre 6% e 7%, o resultado real aproximou-se de 11%.
Cuca Jorge
Minin: novo conceito une produção à gerêrencia
"O preço dos componentes elétricos cresceu quase 16%, mas é preciso considerar que as linhas de instrumentação e automação incluem na venda alguns serviços e muita tecnologia", comentou. Com a inflação controlada e estabilidade cambial, ele calcula que o setor poderá crescer 10% líquidos, um resultado muito bom, permitindo faturar por volta de R$ 2,3 bilhões.
Entre as variáveis dessa projeção, a taxa de câmbio tem papel muito relevante, pois o setor importa muitos componentes e peças, enquanto exporta muito pouco. Em 2004, o real iniciou o ano fortalecido frente ao dólar, tendo se desvalorizado até o início do segundo semestre, quando iniciou nova recuperação até ficar ainda mais fortalecido do que estava em janeiro. A taxa cambial, que andou abaixo de R$ 2,50/dólar, em fevereiro de 2005 não parece se sustentar por longo prazo, devendo ser ampliada para R$ 2,70 a R$ 3,00, e depois entrar em período de estabilidade. O diretor da Abinee comentou que a flutuação cambial de 2004 foi muito ruim para empresas detentoras de grandes estoques de materiais importados.
Mercado firme – As empresas entrevistadas reportam, unânimes, aumento de vendas ao longo dos últimos anos. Comum a todas elas são as encomendas da Petrobrás, que desenvolve um intenso programa de atualização de controles e modernização de sistemas tendo em vista melhor desempenho operacional e aumentar a proteção ao meio ambiente. Esse programa atenderá todas as áreas de atuação da estatal, da exploração e produção de petróleo, às bases de distribuição e dutovias, passando pelo refino.
"Disputamos e ganhamos um contrato de US$ 86 milhões referente à adequação das plataformas do campo de Marlim às normas da Agência Nacional de Petróleo", informou Gustavo Costa, diretor-presidente da Emerson Process Management, subsidiária brasileira da americana homômina.
Cada plataforma ganhará uma estação de medição de óleo e gás, incluindo o sistema de gerenciamento de informações. O contrato, aliado a outras possibilidades de negócios, levou a empresa a abrir, no ano passado, um escritório de vendas e serviços em Macaé-RJ, que já conta com quadro de profissionais igual à metade dos 112 da sede, instalada em Sorocaba-SP.
Cuca Jorge
Cost:a: operador tomará decisões
Costa comentou que a Emerson também atuou em dois projetos da Petrobrás na Replan, onde trocou a instrumentação de controle e implantou um moderno sistema Plant Web, desenvolvido para aproveitar as vantagens da instrumentação inteligente e dos protocolos de comunicação digital.
As empresas petroquímicas, a exemplo de Petroquímica União e Braskem, também possibilitaram sustentar o ritmo de crescimento anual da ordem de 30%, a ser mantido em 2005. "Estamos em crescimento contínuo de vendas nos últimos dez anos", afirmou.
Nelson Ninin salienta, porém, que a participação da instrumentação e controle nos investimentos petroleiros tende a ser bem maior no caso das refinarias. "Por enquanto, a grande maioria dos projetos em andamento na Petrobrás são ligados à exploração e produção, que usam relativamente menos esses produtos", comentou. Ele elogiou o programa Promimp, criado pelo Ministério das Minas e Energia, para capacitação de empresas locais para fornecimentos ao setor de petróleo e gás.
Já na área petroquímica, a participação é muito atraente. A Yokogawa sempre teve boa atuação no pólo de Camaçari-BA, desde a sua fundação na década de 1970, estimando deter 80% das linhas instaladas. Ninin afirma ter boa presença em Cubatão-SP, enquanto admite que os pólos paulista e gaúcho são mais diversificados em supridores de instrumentos e sistemas. "Inauguramos novas instalações da filial da Bahia, que terá condições de atender toda a demanda do Nordeste", informou.
Também a Invensys (dona da marca Foxboro) projeta para 2005 crescimento de vendas, por sua vez, da ordem de 27%. "Crescemos além da nossa meta, entre março de 2004 a fevereiro de 2005, passando dos 20% em faturamento", afirmou o diretor-comercial, Luiz Sussumu Funagoshi. A meta é apoiada pela boa aceitação de mercado do amplo portfólio de produtos e sistemas. Segundo o diretor, a metade dos negócios é absorvido por reposição de produtos e atualização de sistemas, enquanto o resto fica com projetos totalmente novos.
A recente valorização do dólar frente ao real ajuda o fornecedor a reduzir custos, economia imediatamente repassada aos clientes. "É preciso tomar cuidado com os estoques e estar preparado para um efeito perverso: o dólar barato prejudica as exportações dos nossos clientes, que podem se sentir pouco estimulados a investir."
Cuca Jorge
Sussumu: indústria química busca otimização
O diretor comenta ser grande o interesse por parte de seus clientes nas áreas química e petroquímica, além de celulose, em conhecer melhor o controle avançado de processos, conjunto de instrumentos e programas para otimização. "Ele permite produzir mais, sem aumentar capacidade industrial", afirmou. Da mesma forma, a instrumentação de campo inteligente também recebe demanda crescente nos últimos anos, em geral, direcionada para o gerenciamento de ativos.
Sussumu aponta duas pressões para a atualização de sistemas de controle e automação de processos: a primeira consiste no fato de boa parte do parque produtivo ter sido erguida há mais de vinte anos e, portanto, operar com instrumentação obsoleta, cuja substituição apresenta relação custo/benefício muito favorável. Outra vertente diz respeito à adoção de leis americanas de boas práticas de produção e contabilidade que impõem a interligação dos sistemas de controle (MES) com o sistema de gerenciamento corporativo (ERP), de modo a permitir relatórios atualizados e realistas.
Após forte reestruturação interna, a ABB (Asea Brown Boveri) pretende atuar de forma mais incisiva junto ao setor químico, usando como trunfo a plataforma Industrial IT e uma diversificada carteira de instrumentos de campo, analisadores dedicados (Hartmann & Braun) e sistemas. "O portfólio é amplo, mas nós só colocamos na planta aquilo que o cliente quiser", disse Andre Inserra, diretor para as áreas de petróleo, química e indústrias de consumo da divisão de tecnologias de automação da ABB.
As plataforma Industrial IT já foi adotada em duas refinarias brasileiras, campo no qual a ABB possui larga experiência, tendo herdado tecnologia e clientes da Bailey, absorvida em 1999. "A área de petróleo, da exploração aos terminais de distribuição, está em novo ciclo de investimentos, que nos permitiu ampliar nossas vendas em 50% nos últimos dois anos", comentou Inserra.
Entre os setores industriais mais ativos em investimentos, ele citou os fornecedores de produtos de consumo e o ramo farmacêutico. Boa parte da procura se dirige para robôs para a linha de empacotamento final de produtos e paletização. "Na Europa, a automação dessas linhas é feita para permitir economia com mão-de-obra, mas no Brasil a escolha é feita para evitar erros de operação ou prevenir problemas de saúde ocupacional", explicou.
Como exemplo de negócio petroquímico, a ABB conta com fornecimentos grandes para a Rio Polímeros, erguida pela Lummus ABB em contrato EPC (engineering, project and construction), que teria facilitado o uso de instrumentos e sistemas da companhia. "Esse negócio foi todo realizado no exterior e não entrou em nosso faturamento, mas estamos dando treinamento e suporte técnico", disse Inserra. Isso é possível pelo fato de a empresa brasileira ter revertido uma tendência de terceirização de seu quadro profissional técnico, que resultou no aumento de 50% do pessoal de engenharia. "O contratado tem compromisso maior com a empresa e participa dos programas internos de remuneração variável", salientou.
Embora tenha atualizado seus produtos e sistemas, Inserra verifica, com alguma surpresa, o interesse de clientes em itens das linhas mais antigas, por isso mesmo mantidos em comercialização. "Nós procuramos atualizar os sistemas de forma que eles consigam conversar com os produtos mais antigos, mesmo no caso da linha Bailey", informou.
Consolidação – Depois de ter atravessado a década de 1990 com fortes movimentos de fusões e aquisições, o setor de instrumentação e controle parece viver um período de consolidação de produtos e mercados. "Ainda há quem prefira crescer ou abrir mercados por meio de aquisições, mas sempre é necessário organizar o portfólio e descartar as linhas não-prioritárias, até para canalizar investimentos para o core business", comentou Nelson Ninin. Por se tratar de um ramo de negócios altamente dependente de tecnologia, a pulverização de esforços de pesquisa e desenvolvimento pode implicar a perda de posições de mercado. A Yokogawa investe de 7% a 8% de seu faturamento anual mundial, próximo de US$ 5 bilhões, no desenvolvimento de tecnologia, com a intenção de assumir a liderança de negócios. "Os mercados da China e do Oriente Médio estão muito ativos e temos neles excelente participação", comentou.
Ninin não espera redução no número de players globais em relação ao quadro atual, mas considera possível que algumas das empresas do setor concentrem seus esforços em nichos de mercado. "Fizemos há pouco um acordo com a Honeywell pelo qual os pacotes de sistemas vendidos por eles contenham nossos transmissores", exemplificou. Isso vale inclusive para os novos transmissores de pressão e pressão diferencial por silício ressonante, de altíssima precisão e tempo de resposta mais baixo, agora com certificação de segurança SIL2.
Gustavo Costa, da Emerson, prevê nova onda de concentração de negócios, a ser comandada pelo diferencial de tecnologia entre fornecedores mundiais, muitos dos quais tendem a ser "esquartejados" por investidores ávidos em retorno rápido do capital. "Hoje, os players mundiais são oito: em 2008, serão apenas três ou quatro", afirmou.
A ABB permanece entre os maiores fornecedores mundiais de sistemas de controle e automação de processos, embora tenha passado por maus bocados até 2002. "Em 2003 e 2004 já obtivemos resultados mundiais positivos e estimulantes", comentou Andre Inserra. Na sua avaliação, o momento da economia mundial permite crescimento mundial da área produtiva, favorecendo o setor. No entanto, a concorrência acirrada fez cair os preços e as margens dos negócios, exigindo aumento da eficiência dos produtores. "Já temos caixa para bancar a aquisição de algum player de pequeno/médio porte com atuação particularmente interessante", comentou.